sábado, 9 de fevereiro de 2008

O criado mentiroso

Certo lavrador tinha, havia pouco tempo, um criado, que viera de muito longe e mentia por gosto.
Iam os dois uma vez a cavalo e disse o criado:
-Lá na minha terra, vi um dia uma raposa ainda maior que a ponte de sete arcos que atravessa o rio.
-Bem andaste falando-me em pontes - disse o amo - pois quero dar-te um aviso. Uma vamos daqui a pouco atravessar, que tem um condão especial.
-E qual é? - perguntou o criado.
-Abre-se pelo meio, quando por ela passa quem nesse dia haja pregado alguma peta.
O criado enfiou, e de ali a bocadinho disse ao amo:
-Tamanha como a ponte não seria a raposa, mas era assim como um boi muito grande.
O amo não lhe respondeu, e o criado que ia cavalgando atrás dele, coçava a orelha, muito atrapalhado.
-E talvez nem chegasse ao tamanho dum boi; como um cavalo é que ela era, ou como um burro.
Já se avistava a ponte. O moço pôs-se a tremer.
Se ela se lhe abrisse debaixo dos pés, a queda ao rio era certamente mortal. Foi então dizendo:
-Era como um burro. era; assim como um burro pequenino, acabado de nascer, pouco maior que um cão.
A ponte era altíssima. O pobre criado, já a voz se lhe sumia de todo, quando acrescentou:
-A verdade, a pura verdade, é que a raposa era como todas as raposas.
Já o amo ia na ponte. Olhou para trás e viu o criado que parara à entrada.
-Então? - perguntou-lhe - O cavalo tem medo?
-Não senhor - respondeu-lhe o moço - sou eu que não me atrevo.
-Então porquê?
-É que eu, patrão, nunca vi raposa nenhuma.
E, persuadido enfim de que já não lhe aconteceria mal, meteu esporas ao cavalo e seguiu o lavrador, que ria às gargalhadas.

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