
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Amnistia
Perdoo os egocêntricos,
Ilógicos, insensatos
E incrédulos!
Perdoo ser honesto,
Fazer o Bem,
Ter auto-estima!
Prefiro ser anjo
Que génio!
Prefiro a virtude.
-pois traduz divindade e bondade-
À suprema glória,
-pois traduz grandeza e frieza!-
Prefiro aperfeiçoar
A corrigir!
Prefiro conquistar
A dominar!
Prefiro a gentileza
Ao interesse!
A franqueza
À subtileza!
Prefiro perdoar e perder
A ameaçar!
Prefiro dar
A receber!
-"Mas de mim. mais não te darei,
Pois não me sabes prender!".-
-Soubeste ficar com o meu sentir!".
Carmin Dauro
Ilógicos, insensatos
E incrédulos!
Perdoo ser honesto,
Fazer o Bem,
Ter auto-estima!
Prefiro ser anjo
Que génio!
Prefiro a virtude.
-pois traduz divindade e bondade-
À suprema glória,
-pois traduz grandeza e frieza!-
Prefiro aperfeiçoar
A corrigir!
Prefiro conquistar
A dominar!
Prefiro a gentileza
Ao interesse!
A franqueza
À subtileza!
Prefiro perdoar e perder
A ameaçar!
Prefiro dar
A receber!
-"Mas de mim. mais não te darei,
Pois não me sabes prender!".-
-Soubeste ficar com o meu sentir!".
Carmin Dauro
segunda-feira, 28 de julho de 2008
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Água de mar
Cadê você,
De olho água de mar,
Como marola o olhar,
Que me enrolava na areia
Em noite de lua cheia ...
Cadê você,
Que me beijava e corria,
Que chegava e se escondia,
Dando risada afinada
Ao tom de u'a madrugada ...
Cadê você, que deixou
Um travo de saudade no meu beijo,
Um amargo contato em meu carinho,
Um eco de tristeza em meu silêncio,
Um cheiro de distância em meu caminho ...
Cadê você?
Este poema e o anterior, são de autoria de
Mila Ramos
De olho água de mar,
Como marola o olhar,
Que me enrolava na areia
Em noite de lua cheia ...
Cadê você,
Que me beijava e corria,
Que chegava e se escondia,
Dando risada afinada
Ao tom de u'a madrugada ...
Cadê você, que deixou
Um travo de saudade no meu beijo,
Um amargo contato em meu carinho,
Um eco de tristeza em meu silêncio,
Um cheiro de distância em meu caminho ...
Cadê você?
Este poema e o anterior, são de autoria de
Mila Ramos
sábado, 19 de julho de 2008
Outono
... E lá me vem este amor
Na estação dos frutos sazonados ...
Um amor no Outono,
Em cores de Primavera,
Um amor do Inverno,
Muito terno,
E com cheiro de Verão ...
Ah! Coração!
Eu ganhei um amor
Com cheiro de Verão
E cores de Primavera ...
Ah! Coração!
Primavera ...
Quem me dera!
Na estação dos frutos sazonados ...
Um amor no Outono,
Em cores de Primavera,
Um amor do Inverno,
Muito terno,
E com cheiro de Verão ...
Ah! Coração!
Eu ganhei um amor
Com cheiro de Verão
E cores de Primavera ...
Ah! Coração!
Primavera ...
Quem me dera!
Rua da Liquidação
Se a noite é fria ou quente,
Não faz mal!
A Rua da Liquidação
Liquida a gente.
A noite é a vitrine,
A calçada, o balcão -
Onde o amor sem amor
Fecha a caixa do dia!
É o amor promoção,
Um amor sem depois,
Bem no género oferta
Pague um, leve dois.
É a Rua da Liquidação:
É gente a preço baixo,
Liquidando o amor ...
É o amor liquidando gente
A preço baixo ...
É o preço baixo
Liquidando o amor da gente
Na Rua da Liquidação,
Na noite fria ou quente ...
Mila Ramos
Não faz mal!
A Rua da Liquidação
Liquida a gente.
A noite é a vitrine,
A calçada, o balcão -
Onde o amor sem amor
Fecha a caixa do dia!
É o amor promoção,
Um amor sem depois,
Bem no género oferta
Pague um, leve dois.
É a Rua da Liquidação:
É gente a preço baixo,
Liquidando o amor ...
É o amor liquidando gente
A preço baixo ...
É o preço baixo
Liquidando o amor da gente
Na Rua da Liquidação,
Na noite fria ou quente ...
Mila Ramos
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Quando precisar de mim
Quando sentir vontade de chorar, não chore, pode chamar-me que eu choro por você.
Quando sentir vontade de sorrir, me avise, que eu venho para sorrirmos juntos.
Quando sentir vontade de amar, me avise, que eu venho amar você.
Quando sentir que está tudo acabado, me chame, que eu venho lhe ajudar a reconstruir.
Quando achar que o mundo é pequeno demais para sua tristeza,
me chame, que eu faço você ficar grande demais para a sua felicidade.
Quando precisar de companhia naqueles dias nublados e tristes,
me chame, que eu venho ficar com você.
Quando estiver precisando ouvir alguém dizer: "Eu tenho amizade por você",
me chame, que eu isso direi, a qualquer hora, em qualquer lugar, com sinceridade.
Quando não precisar mais de mim,
me diga, pois a minha Amizade por você é imensa... eterna,
mas mesmo assim, eu simplesmente irei embora.
Quando sentir vontade de sorrir, me avise, que eu venho para sorrirmos juntos.
Quando sentir vontade de amar, me avise, que eu venho amar você.
Quando sentir que está tudo acabado, me chame, que eu venho lhe ajudar a reconstruir.
Quando achar que o mundo é pequeno demais para sua tristeza,
me chame, que eu faço você ficar grande demais para a sua felicidade.
Quando precisar de companhia naqueles dias nublados e tristes,
me chame, que eu venho ficar com você.
Quando estiver precisando ouvir alguém dizer: "Eu tenho amizade por você",
me chame, que eu isso direi, a qualquer hora, em qualquer lugar, com sinceridade.
Quando não precisar mais de mim,
me diga, pois a minha Amizade por você é imensa... eterna,
mas mesmo assim, eu simplesmente irei embora.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
Desejo-te ... tempo!
Não te desejo um presente qualquer,
Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem.
Desejo-te tempo, para te divertires e para sorrir;
Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados
E muitos sucessos comemorados.
Desejo-te tempo, para planear e realizar,
Não só para ti, mas também para os outros.
Desejo-te tempo, não para teres pressa e correr,
Desejo-te tempo para te encontrares,
Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio,
Desejo-te tempo, para que fiques;
Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém.
Desejo-te tempo para tocares as estrelas,
E tempo para crescer e amadurecer.
Desejo-te tempo para aprenderes e acertares,
Tempo para recomeçares, se fracassares...
Desejo-te tempo também para poderes voltar atrás e perdoar.
Desejo-te tempo, para teres novas esperanças e para amar.
Não faz mais sentido protelar.
Desejo-te tempo para seres feliz.
Para viveres cada dia, cada hora como um presente.
Desejo-te tempo, tempo para a vida.
Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo
Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem.
Desejo-te tempo, para te divertires e para sorrir;
Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados
E muitos sucessos comemorados.
Desejo-te tempo, para planear e realizar,
Não só para ti, mas também para os outros.
Desejo-te tempo, não para teres pressa e correr,
Desejo-te tempo para te encontrares,
Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio,
Desejo-te tempo, para que fiques;
Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém.
Desejo-te tempo para tocares as estrelas,
E tempo para crescer e amadurecer.
Desejo-te tempo para aprenderes e acertares,
Tempo para recomeçares, se fracassares...
Desejo-te tempo também para poderes voltar atrás e perdoar.
Desejo-te tempo, para teres novas esperanças e para amar.
Não faz mais sentido protelar.
Desejo-te tempo para seres feliz.
Para viveres cada dia, cada hora como um presente.
Desejo-te tempo, tempo para a vida.
Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo
quinta-feira, 10 de julho de 2008
A Família
Alguém disse, um dia, que a Família é como um forte inexpugnável, onde nos refugiamos, quando somos atacados pelas dificuldades da vida e onde vamos buscar compreensão, carinho e amor.
A Família é (ou era), assim como que um ninho que novamente nos acolhia, quando quebrávamos as asas e era preciso consertá-las.
Hoje, verifico com tristeza, que a Família se desmembra quando qualquer contrariedade se instala no “forte”, que a união já não é o que era, que se desfaz com a maior facilidade.
Saímos de casa, porque julgamos que já sabemos tudo, que estamos preparados para a vida, que os avisos dos “velhos” não têm razão de ser.
Somos novos, independentes, fazemos o que queremos, enfim ... temos liberdade.
Mas a liberdade é uma faca de dois gumes. Temos que saber usá-la e isso devemos aprender com os “velhos”.
Mas não, para quê ouvir conselhos, se nós já sabemos tudo. Para quê escutar os pais, se eles falam do passado e o passado já não existe.
Para quê nos preocuparmos com o futuro? Vamos viver o presente, a vida é bela e tudo é um mar de rosas.
O pior é quando aparecem os espinhos! Aí, lembramo-nos da Família e dos conselhos que não acatámos. E lembramo-nos que nos disseram que a vida tem escolhos, por vezes, mais tristezas que alegrias,
E tentamos refugiar-nos no nosso ninho, que, por vezes, já não existe.
Já é tarde demais.
Sim ... é tarde demais e o tempo passou ... correndo!
Fernando J
A Família é (ou era), assim como que um ninho que novamente nos acolhia, quando quebrávamos as asas e era preciso consertá-las.
Hoje, verifico com tristeza, que a Família se desmembra quando qualquer contrariedade se instala no “forte”, que a união já não é o que era, que se desfaz com a maior facilidade.
Saímos de casa, porque julgamos que já sabemos tudo, que estamos preparados para a vida, que os avisos dos “velhos” não têm razão de ser.
Somos novos, independentes, fazemos o que queremos, enfim ... temos liberdade.
Mas a liberdade é uma faca de dois gumes. Temos que saber usá-la e isso devemos aprender com os “velhos”.
Mas não, para quê ouvir conselhos, se nós já sabemos tudo. Para quê escutar os pais, se eles falam do passado e o passado já não existe.
Para quê nos preocuparmos com o futuro? Vamos viver o presente, a vida é bela e tudo é um mar de rosas.
O pior é quando aparecem os espinhos! Aí, lembramo-nos da Família e dos conselhos que não acatámos. E lembramo-nos que nos disseram que a vida tem escolhos, por vezes, mais tristezas que alegrias,
E tentamos refugiar-nos no nosso ninho, que, por vezes, já não existe.
Já é tarde demais.
Sim ... é tarde demais e o tempo passou ... correndo!
Fernando J
O coração de uma mãe
Eu acredito
que o coração de uma mãe
sangre dentro do seu peito
e que lágrimas bebidas
muitas vezes façam feridas
e deixem marcas também.
Eu acredito
que o coração de uma mãe
é grande, é comovido
mas, no silêncio da dor,
quase rebente de amor
e permaneça escondido.
Mas ...
Eu acredito também
que o coração de uma mãe
em momentos de alegria
desenrola como a corda
e, como a água, transborda
e todo o rosto sorria.
Isabel Aresta
que o coração de uma mãe
sangre dentro do seu peito
e que lágrimas bebidas
muitas vezes façam feridas
e deixem marcas também.
Eu acredito
que o coração de uma mãe
é grande, é comovido
mas, no silêncio da dor,
quase rebente de amor
e permaneça escondido.
Mas ...
Eu acredito também
que o coração de uma mãe
em momentos de alegria
desenrola como a corda
e, como a água, transborda
e todo o rosto sorria.
Isabel Aresta
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Vida diferente
Gostava de ser cigana ...
desprendida, despojada
andando, no campo, ao vento
a "casa" sempre arrumada
a roupa sempre "lavada"
não ter lugar, nem assento.
Gostava de ser cigana ...
minha Pátria, a natureza,
minha cama, uma manta,
"meu" Banco, caixa de lata,
não ter grades, não estar presa
não ter ouro, não ter prata.
Gostava de ser cigana ...
nem que fosse por um dia
era minha essa opção
experimentar ser "Raínha"
p'ra sentir a sensação
de saber que nada tinha!
Isabel Aresta
desprendida, despojada
andando, no campo, ao vento
a "casa" sempre arrumada
a roupa sempre "lavada"
não ter lugar, nem assento.
Gostava de ser cigana ...
minha Pátria, a natureza,
minha cama, uma manta,
"meu" Banco, caixa de lata,
não ter grades, não estar presa
não ter ouro, não ter prata.
Gostava de ser cigana ...
nem que fosse por um dia
era minha essa opção
experimentar ser "Raínha"
p'ra sentir a sensação
de saber que nada tinha!
Isabel Aresta
Hoje
Hoje, eu queria a altivez da onda
o brilho do sol,
a imponência da montanha,
a vastidão do mar ...
Tudo isso, e tu me notarias?
Hoje, eu queria a suavidade do regato,
a carícia do vento,
a maciez da núvem,
a ternura da lua ...
Tudo isso, e tu me sentirias?
Hoje, eu queria a doçura do mel,
a beleza da flor,
a meiguice do pássaro,
o calor do verão findando,
Tudo isso, e tu me aceitarias?
Hoje, eu me queria assim,
terna e romântica,
altiva e luminosa,
suave e morna ...
Tudo isso, e tu me amarias?
Mila Ramos
o brilho do sol,
a imponência da montanha,
a vastidão do mar ...
Tudo isso, e tu me notarias?
Hoje, eu queria a suavidade do regato,
a carícia do vento,
a maciez da núvem,
a ternura da lua ...
Tudo isso, e tu me sentirias?
Hoje, eu queria a doçura do mel,
a beleza da flor,
a meiguice do pássaro,
o calor do verão findando,
Tudo isso, e tu me aceitarias?
Hoje, eu me queria assim,
terna e romântica,
altiva e luminosa,
suave e morna ...
Tudo isso, e tu me amarias?
Mila Ramos
Dia a dia
Meu dia a dia
É tentar não te perder.
Meu sonho é ter-te
No carinho de minhas mãos,
Na ternura de mim.
E dar-te meu beijo
No enrolar de um abraço,
Dar-te meu sonho bom ...
Meu sonho é ter-te
Meu pesadelo, perder-te.
Minha entrega é tranquila,
Mesmo quando gotejas em mim
Um amor reticente, hesitante,
Misto de momentos de ternura infinita,
Ou de um displicente deixar-se amar ...
Meu sonho é ter-te,
Meu pesadelo, perder-te.
Mila Ramos
É tentar não te perder.
Meu sonho é ter-te
No carinho de minhas mãos,
Na ternura de mim.
E dar-te meu beijo
No enrolar de um abraço,
Dar-te meu sonho bom ...
Meu sonho é ter-te
Meu pesadelo, perder-te.
Minha entrega é tranquila,
Mesmo quando gotejas em mim
Um amor reticente, hesitante,
Misto de momentos de ternura infinita,
Ou de um displicente deixar-se amar ...
Meu sonho é ter-te,
Meu pesadelo, perder-te.
Mila Ramos
Simplesmente
Gosto de ti, simplesmente!
Gosto de ti,
Não me perguntes por quê,
Eu sei lá deste querer?
Gosto de ti quando falas,
Cheio de graça, engraçado,
Cheio de mal, malcriado
Gosto de ti quando ralhas,
Quando prometes e falhas,
Meio sem jeito, sei lá ...
Gosto de ti quando calas,
Cheio de dengo, dengoso,
Tão suave, carinhoso ...
Gosto de ti!
Não me perguntes por quê ...
Meu coração é que sente,
Gosto de ti, simplesmente!
Mila Ramos
Gosto de ti,
Não me perguntes por quê,
Eu sei lá deste querer?
Gosto de ti quando falas,
Cheio de graça, engraçado,
Cheio de mal, malcriado
Gosto de ti quando ralhas,
Quando prometes e falhas,
Meio sem jeito, sei lá ...
Gosto de ti quando calas,
Cheio de dengo, dengoso,
Tão suave, carinhoso ...
Gosto de ti!
Não me perguntes por quê ...
Meu coração é que sente,
Gosto de ti, simplesmente!
Mila Ramos
Muito comum
Gosto das coisas comuns!
De mar, de sol, de lua,
De andar descalça pela rua,
De jogar paciência no tapete ...
De olhar a chuva que respinga na vidraça
E decifrar a figura que a gotinha traça ...
De toalha branca em mesa posta,
Quem não gosta?
De música e poesia,
De ficar sozinha,
Pensar e ter saudade,
De estar com gente
Que é gente de verdade ...
De remexer em aparelho enguiçado,
De resolver problema complicado ...
Gosto da carta que logo tem resposta,
Quem não gosta?
Gosto das coisas comuns!
Gosto de margaridas no jardim,
Gosto de ipê florindo na janela,
De um papo gostoso à luz de vela,
De ouvir rádio, ler jornal,
De banda desfilando, carnaval ...
Gosto do abraço que me enrosca,
Gosto do rosto que o meu rosto encosta.
Quem não gosta?
Gosto das coisas comuns ...
De incomum, só gosto de você!
Mila Ramos
De mar, de sol, de lua,
De andar descalça pela rua,
De jogar paciência no tapete ...
De olhar a chuva que respinga na vidraça
E decifrar a figura que a gotinha traça ...
De toalha branca em mesa posta,
Quem não gosta?
De música e poesia,
De ficar sozinha,
Pensar e ter saudade,
De estar com gente
Que é gente de verdade ...
De remexer em aparelho enguiçado,
De resolver problema complicado ...
Gosto da carta que logo tem resposta,
Quem não gosta?
Gosto das coisas comuns!
Gosto de margaridas no jardim,
Gosto de ipê florindo na janela,
De um papo gostoso à luz de vela,
De ouvir rádio, ler jornal,
De banda desfilando, carnaval ...
Gosto do abraço que me enrosca,
Gosto do rosto que o meu rosto encosta.
Quem não gosta?
Gosto das coisas comuns ...
De incomum, só gosto de você!
Mila Ramos
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Noite
Noites africanas langorosas, esbatidas em luares..., perdidas em mistérios...
Há cantos de tungurúluas pelos ares!... ..........................................................................
Noites africanas endoidadas, onde o barulhento frenesi das batucadas, põe tremores nas folhas dos cajueiros... ..........................................................................
Noites africanas tenebrosas..., povoadas de fantasmas e de medos, povoadas das histórias de feiticeiros que as amas-secas pretas, contavam aos meninos brancos...
E os meninos brancos cresceram, e esqueceram as histórias...
Por isso as noites são tristes...
Endoidadas, tenebrosas, langorosas, mas tristes... como o rosto gretado, e sulcado de rugas, das velhas pretas... como o olhar cansado dos colonos, como a solidão das terras enormes mas desabitadas...
É que os meninos brancos..., esqueceram as histórias, com que as amas-secas pretas os adormeciam, nas longas noites africanas...
Os meninos-brancos... esqueceram
Alda Lara
Há cantos de tungurúluas pelos ares!... ..........................................................................
Noites africanas endoidadas, onde o barulhento frenesi das batucadas, põe tremores nas folhas dos cajueiros... ..........................................................................
Noites africanas tenebrosas..., povoadas de fantasmas e de medos, povoadas das histórias de feiticeiros que as amas-secas pretas, contavam aos meninos brancos...
E os meninos brancos cresceram, e esqueceram as histórias...
Por isso as noites são tristes...
Endoidadas, tenebrosas, langorosas, mas tristes... como o rosto gretado, e sulcado de rugas, das velhas pretas... como o olhar cansado dos colonos, como a solidão das terras enormes mas desabitadas...
É que os meninos brancos..., esqueceram as histórias, com que as amas-secas pretas os adormeciam, nas longas noites africanas...
Os meninos-brancos... esqueceram
Alda Lara
Testamento
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhamdo algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua ...
Alda Lara
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhamdo algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua ...
Alda Lara
Rumo
É tempo, companheiro!
Caminhemos ...
Longe, a Terra chama por nós,
e ninguém resiste à voz Da Terra ...
Nela,
O mesmo sol ardente nos queimou a mesma lua triste nos acariciou,
e se tu és negro e eu sou branco, a mesma Terra nos gerou!
Vamos, companheiro ...
É tempo!
Que o meu coração se abra à mágoa das tuas mágoas e ao prazer dos teus prazeres
Irmão
Que as minhas mãos brancas se estendam para estreitar com amor as tuas longas mãos negras ...
E o meu suor se junte ao teu suor, quando rasgarmos os trilhos de um mundo melhor!
Vamos! que outro oceano nos inflama.. .
Ouves?
É a Terra que nos chama ...
É tempo, companheiro!
Caminhemos ...
Alda Lara - Poetisa benguelense
Caminhemos ...
Longe, a Terra chama por nós,
e ninguém resiste à voz Da Terra ...
Nela,
O mesmo sol ardente nos queimou a mesma lua triste nos acariciou,
e se tu és negro e eu sou branco, a mesma Terra nos gerou!
Vamos, companheiro ...
É tempo!
Que o meu coração se abra à mágoa das tuas mágoas e ao prazer dos teus prazeres
Irmão
Que as minhas mãos brancas se estendam para estreitar com amor as tuas longas mãos negras ...
E o meu suor se junte ao teu suor, quando rasgarmos os trilhos de um mundo melhor!
Vamos! que outro oceano nos inflama.. .
Ouves?
É a Terra que nos chama ...
É tempo, companheiro!
Caminhemos ...
Alda Lara - Poetisa benguelense
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Augusto Gil
BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Cântico Negro- José Régio
"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
sábado, 29 de março de 2008
Sobre a morte de Inês de Castro
Manuel Maria Barbosa du Bocage, poeta setubalense, é mais conhecido pelas anedotas "porcas" que nunca contou, nem disso teve conhecimento.
Era também conhecido por "Elmano sadino", o eterno apaixonado.
Aqui deixo um soneto, esse sim, de sua autoria, que demonstra os seus elevados sentimentos:
Da miseranda Inês, o caso triste.
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Paixão que, se a sentir, não lhe resiste,
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória, em lágrimas, existe.
Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime à Natureza oposto.
Tu és cópia de Inês, encanto amado,
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto ...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado.
Era também conhecido por "Elmano sadino", o eterno apaixonado.
Aqui deixo um soneto, esse sim, de sua autoria, que demonstra os seus elevados sentimentos:
Da miseranda Inês, o caso triste.
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Paixão que, se a sentir, não lhe resiste,
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória, em lágrimas, existe.
Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime à Natureza oposto.
Tu és cópia de Inês, encanto amado,
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto ...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado.
terça-feira, 11 de março de 2008
Carlos Drummond de Andrade
Só os verdadeiros gênios, como Drummond, são capazes de fazer com simplicidade algo assim tão genial !!!
Em um momento de descontracção, o grande poeta Carlos Drumond de Andrade escreveu:
"Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!"
Em um momento de descontracção, o grande poeta Carlos Drumond de Andrade escreveu:
"Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!"
domingo, 2 de março de 2008
O meu desejo
Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua...
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!
Nos altos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!
Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...
Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, Amor, devagarinho,
Até a morte me levar consigo...
Florbela Espanca
Olhando a nuvem de oiro que flutua...
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!
Nos altos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!
Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...
Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, Amor, devagarinho,
Até a morte me levar consigo...
Florbela Espanca
Amo
Amo o vento que nos estimula quando brinca entre os seus cabelos,quando você se torna bailarina para segui-lo com passos graciosos. Amo quando corre radiosa para jogar-se nos meus braços,quando se torna pequena, pequena, para se sentar sobre os meus joelhos. Amo o sol que se põe,quando se deita lentamente,mas amo esperar crédulo que para nós ele se inflamará. Amo a sua mão que me tranquiliza, quando me perco no meio do escuro,e a sua voz parece o murmúrio da nascente da esperança. Amo quando seus olhos de bruma me encobrem com sua doçura e, como num travesseiro de plumas, a minha testa pousa sobre seu coração.
Era Salvatore Adamo que cantava. Lembram-se?
Era Salvatore Adamo que cantava. Lembram-se?
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Serão? ...
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Fernando Pessoa
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Fernando Pessoa
Triste passeio
Com certeza que é: Florbela Espanca
Vou pela estrada, sozinha.
Não me acompanha ninguém.
- Num atalho, em voz mansinha:
"Como está ele? Está bem?"
É a toutinegra curiosa;
Há em mim um doce enleio...
Nisto pergunta uma rosa:
"Então ele? Inda não veio?"
Sinto-me triste, doente...
E nem me deixam esquecê-lo!...
Nisto o sol impertinente:
"Sou um fio do seu cabelo..."
Ainda bem. É noitinha.
Enfim já posso pensar!
Ai, já me deixam sozinha!
De repente, oiço o luar:
"Que imensa mágoa me invade,
Que dor o meu peito sente!
Tenho uma enorme saudade!
De ver o teu doce ausente!"
Volto a casa. Que tristeza!
Inda é maior minha dor...
Vem depressa. A natureza
Só fala de ti, amor!
Vou pela estrada, sozinha.
Não me acompanha ninguém.
- Num atalho, em voz mansinha:
"Como está ele? Está bem?"
É a toutinegra curiosa;
Há em mim um doce enleio...
Nisto pergunta uma rosa:
"Então ele? Inda não veio?"
Sinto-me triste, doente...
E nem me deixam esquecê-lo!...
Nisto o sol impertinente:
"Sou um fio do seu cabelo..."
Ainda bem. É noitinha.
Enfim já posso pensar!
Ai, já me deixam sozinha!
De repente, oiço o luar:
"Que imensa mágoa me invade,
Que dor o meu peito sente!
Tenho uma enorme saudade!
De ver o teu doce ausente!"
Volto a casa. Que tristeza!
Inda é maior minha dor...
Vem depressa. A natureza
Só fala de ti, amor!
Carta para longe
Mais Florbela Espanca, está bem de ver
O tempo vai um encanto,
A Primavera 'stá linda,
Voltaram as andorinhas...
E tu não voltaste ainda!...
Porque me fazes sofrer?
Porque te demoras tanto?
A Primavera 'stá linda...
O tempo vai um encanto...
Tu não sabes, meu amor,
Que, quem 'spera, desespera?
O tempo está um encanto...
E, vai linda a Primavera...
Há imensas andorinhas;
Cobrem a terra e o céu!
Elas voltaram aos ninhos...
Volta também para o teu!...
Adeus. Saudades do sol,
Da madressilva e da hera;
Respeitosos cumprimentos
Do tempo e da Primavera.
Mil beijos da tua q'rida,
Que é tua por toda a vida
O tempo vai um encanto,
A Primavera 'stá linda,
Voltaram as andorinhas...
E tu não voltaste ainda!...
Porque me fazes sofrer?
Porque te demoras tanto?
A Primavera 'stá linda...
O tempo vai um encanto...
Tu não sabes, meu amor,
Que, quem 'spera, desespera?
O tempo está um encanto...
E, vai linda a Primavera...
Há imensas andorinhas;
Cobrem a terra e o céu!
Elas voltaram aos ninhos...
Volta também para o teu!...
Adeus. Saudades do sol,
Da madressilva e da hera;
Respeitosos cumprimentos
Do tempo e da Primavera.
Mil beijos da tua q'rida,
Que é tua por toda a vida
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Se tu viesses ver-me
Poema de Florbela Espanca
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Minha culpa
Poema de Florbela Espanca
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...
Como a sorte, hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem! ...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...
Como a sorte, hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem! ...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Fanatismo
Poema de Florbela Espanca
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa... "
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa... "
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!
Navegar é preciso
Só podia ser Fernando Pessoa
Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
António Aleixo
António Aleixo, foi um poeta popular algarvio, semi-analfabeto, que se distinguiu pelas suas quadras "picantes", que se adaptam perfeitamente à realidade portuguesa de hoje.
Nasceu em Vila Real de Santo António, em 1899 e faleceu em Loulé, em 1949.
Eis algumas:
Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
À guerra não ligues meia
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Sei que pareço um ladrão ...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.
Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
A vida na grande terra
corrompe a humanidade.
Entre a cidade e a serra
prefiro a serra à cidade.
O mundo só pode ser
melhor do que até aqui
-quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!
Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.
Bate a fome à porta deles
e é lá mais mal recebida
do que na casa daqueles
que a sofreram toda a vida.
Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
Para não fazeres ofensas
e teres dias felizes
não digas tudo o que pensas
mas pensa tudo o que dizes.
Vinho que vai p'ra vinagre
não retrocede o caminho;
só por obra de milagre,
pode de novo ser vinho.
Quando te vês mal, e dizes
que preferias a morte
pensa que outros menos felizes
invejam a tua sorte.
Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós;
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
-digo verdades a rir,
aos que me mentem a sério.
Nasceu em Vila Real de Santo António, em 1899 e faleceu em Loulé, em 1949.
Eis algumas:
Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
À guerra não ligues meia
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Sei que pareço um ladrão ...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.
Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
A vida na grande terra
corrompe a humanidade.
Entre a cidade e a serra
prefiro a serra à cidade.
O mundo só pode ser
melhor do que até aqui
-quando consigas fazer
mais p'los outros que por ti!
Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.
Bate a fome à porta deles
e é lá mais mal recebida
do que na casa daqueles
que a sofreram toda a vida.
Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
Para não fazeres ofensas
e teres dias felizes
não digas tudo o que pensas
mas pensa tudo o que dizes.
Vinho que vai p'ra vinagre
não retrocede o caminho;
só por obra de milagre,
pode de novo ser vinho.
Quando te vês mal, e dizes
que preferias a morte
pensa que outros menos felizes
invejam a tua sorte.
Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós;
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
-digo verdades a rir,
aos que me mentem a sério.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Eu me lembro
Eu me lembro, eu me lembro! Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
E eu disse a minha Mãe nesse momento:
«Que dura orquestra! que furor insano!
Que pode haver maior que o oceano,
Ou que seja mais forte que o vento?»
Minha Mãe, a sorrir, olhou para os céus
E respondeu: «Um ser, que nós não vemos,
É maior do que o mar, que nós tememos,
Mais forte que o tufão! meu filho, é Deus!»
Casimiro de Abreu
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia
A branca espuma para o céu sereno.
E eu disse a minha Mãe nesse momento:
«Que dura orquestra! que furor insano!
Que pode haver maior que o oceano,
Ou que seja mais forte que o vento?»
Minha Mãe, a sorrir, olhou para os céus
E respondeu: «Um ser, que nós não vemos,
É maior do que o mar, que nós tememos,
Mais forte que o tufão! meu filho, é Deus!»
Casimiro de Abreu
Esperteza saloia
Um dia, nos bons tempos de D.Miguel, certo saloio astuto foi condenado a acabar na forca por crime de morte de homem. Quando já estava no oratório, com o baraço ao pescoço, pediu que o conduzissem à presença do rei, porque queria, antes de morrer, revelar um facto importante a sua magestade. Fizeram a vontade ao saloio, atiraram-lhe um farragoulo de burel às costas, e levaram-no a Queluz.
-Que é que tu queres? - perguntou-lhe D.Miguel.
-Ah, meu senhor! Queria pedir a vossa magestade que me concedesse mais um ano de vida. Não é que tenha medo da morte, meu senhor, porque a gente não morre senão uma vez. Mas, com o perdão de vossa magestade, eu estava ensinando o meu burro a ler, um burro de grande entendimento que lá tenho em Loures, e custa-me deixar este mundo sem ver o animal ensinado ...
-Quê? Então o burro lê?
-Já conhece as letras, meu senhor.
O rei achou-lhe graça, chamou o conde de Basto, concedeu ao homem um ano de vida que ele lhe pedia, e prometeu-lhe o perdão da forca, se ele lhe trouxesse o burro em estado de soletrar a Constituição de 1820.
-E agora, como é que tu te arranjas? - perguntava à saída o ministro, cheio de grã-cruzes, ao saloio, que pulava de contente.
-Ora, senhor! Num ano, ou morre o rei, ou morre o burro, ou morro eu.
Júlio Dantas
Júlio Dantas
-Que é que tu queres? - perguntou-lhe D.Miguel.
-Ah, meu senhor! Queria pedir a vossa magestade que me concedesse mais um ano de vida. Não é que tenha medo da morte, meu senhor, porque a gente não morre senão uma vez. Mas, com o perdão de vossa magestade, eu estava ensinando o meu burro a ler, um burro de grande entendimento que lá tenho em Loures, e custa-me deixar este mundo sem ver o animal ensinado ...
-Quê? Então o burro lê?
-Já conhece as letras, meu senhor.
O rei achou-lhe graça, chamou o conde de Basto, concedeu ao homem um ano de vida que ele lhe pedia, e prometeu-lhe o perdão da forca, se ele lhe trouxesse o burro em estado de soletrar a Constituição de 1820.
-E agora, como é que tu te arranjas? - perguntava à saída o ministro, cheio de grã-cruzes, ao saloio, que pulava de contente.
-Ora, senhor! Num ano, ou morre o rei, ou morre o burro, ou morro eu.
Júlio Dantas
Júlio Dantas
O Leão Velho
Decrépito o leão, terror dos bosques,
E saudoso da antiga fortaleza,
Viu-se atacado pelos outros brutos,
Que intrépidos tornou sua fraqueza.
Eis o lobo, cos dentes o maltrata,
O cavalo cos pés, o boi coas pontas;
E o mísero leão, rugindo apenas,
Paciente digere estas afrontas.
Não se queixa dos fados; porém, vendo
Vir o burro, animal d'ínfima sorte,
-Ah! vil raça! (lhe diz) - morrer não temo,
Mas sofrer-te uma injúria é mais do que morte!
Manuel M.B. du Bocage
E saudoso da antiga fortaleza,
Viu-se atacado pelos outros brutos,
Que intrépidos tornou sua fraqueza.
Eis o lobo, cos dentes o maltrata,
O cavalo cos pés, o boi coas pontas;
E o mísero leão, rugindo apenas,
Paciente digere estas afrontas.
Não se queixa dos fados; porém, vendo
Vir o burro, animal d'ínfima sorte,
-Ah! vil raça! (lhe diz) - morrer não temo,
Mas sofrer-te uma injúria é mais do que morte!
Manuel M.B. du Bocage
Epigrama
Um rico, velho avarento,
já bem perto de expirar,
para fazer testamento
manda o tabelião chamar.
Com timbre de voz roufenho,
diz o velho, a suspirar:
-«Deixo tudo quanto tenho ...»
e não podia acabar.
O tabelião, cansado
do seu tempo em vão gastar,
tendo escrito, diz zangado:
-«O resto? queira ditar»-
-Deixo tudo quanto tenho ...
o velho torna, a chorar;
pára um pouco e diz roufenho:
«porque o não posso levar».
Faustino X. de Novais
já bem perto de expirar,
para fazer testamento
manda o tabelião chamar.
Com timbre de voz roufenho,
diz o velho, a suspirar:
-«Deixo tudo quanto tenho ...»
e não podia acabar.
O tabelião, cansado
do seu tempo em vão gastar,
tendo escrito, diz zangado:
-«O resto? queira ditar»-
-Deixo tudo quanto tenho ...
o velho torna, a chorar;
pára um pouco e diz roufenho:
«porque o não posso levar».
Faustino X. de Novais
Bem perguntado
-"Senhores, está aberta a sessão" -
Isto disse Dom Ratão,
Presidente da Assembleia
Dos ratinhos e ratões.
-"Quem tiver qualquer ideia
Que pretenda apresentar,
Faça favor de falar
Sem quaisquer hesitações.
Sabem todos a questão:
Há um gato, um mariolão
(E aqui baixou a voz
O prudente Dom Ratão),
Que anda a dar cabo de nós,
Sem qualquer contemplação;
Esta assembleia geral,
Que aqui mandei reunir,
Chamei-a para descobrir
Remédio para este mal.
Quem quer usar da palavra?"
Um ratão de qualidade
Pigarreou e disse assim:
-"Senhor Presidente, lavra
Nesta raça um tal desgaste,
Tão grande calamidade,
Que eu acho, na realidade
Ser-lhe urgente pôr-lhe fim!
Faz sentido que um gatito,
Um vulgaríssimo traste,
Apenas porque é expedito,
Tão subtil que não se sente,
Vá dando cabo da gente?
Não pode ser! Tenho dito."
Perguntou o presidente:
-"E o distinto orador,
Que com tanto brilho expõe,
Que remédio é que propõe?"
Diz o outro, com calor:
-"Entendo que é suficiente
Pôr ao pescoço do gato
Um chocalho bem estridente,
Que logo previna um rato
Da sua aproximação!
Que isto não tenha ocorrido
Até causa admiração!"
Gritam todos "Apoiado!",
Dando vivas ao Ratão,
Que sorri desvanecido;
Mas um ratinho - um gaiato -
Pergunta com ar mofino
E risinho descarado:
-"E quem é que põe o sino
Ao pescocinho do gato?..."
Isto disse Dom Ratão,
Presidente da Assembleia
Dos ratinhos e ratões.
-"Quem tiver qualquer ideia
Que pretenda apresentar,
Faça favor de falar
Sem quaisquer hesitações.
Sabem todos a questão:
Há um gato, um mariolão
(E aqui baixou a voz
O prudente Dom Ratão),
Que anda a dar cabo de nós,
Sem qualquer contemplação;
Esta assembleia geral,
Que aqui mandei reunir,
Chamei-a para descobrir
Remédio para este mal.
Quem quer usar da palavra?"
Um ratão de qualidade
Pigarreou e disse assim:
-"Senhor Presidente, lavra
Nesta raça um tal desgaste,
Tão grande calamidade,
Que eu acho, na realidade
Ser-lhe urgente pôr-lhe fim!
Faz sentido que um gatito,
Um vulgaríssimo traste,
Apenas porque é expedito,
Tão subtil que não se sente,
Vá dando cabo da gente?
Não pode ser! Tenho dito."
Perguntou o presidente:
-"E o distinto orador,
Que com tanto brilho expõe,
Que remédio é que propõe?"
Diz o outro, com calor:
-"Entendo que é suficiente
Pôr ao pescoço do gato
Um chocalho bem estridente,
Que logo previna um rato
Da sua aproximação!
Que isto não tenha ocorrido
Até causa admiração!"
Gritam todos "Apoiado!",
Dando vivas ao Ratão,
Que sorri desvanecido;
Mas um ratinho - um gaiato -
Pergunta com ar mofino
E risinho descarado:
-"E quem é que põe o sino
Ao pescocinho do gato?..."
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Quem o alheio veste ...
Vendo um jumento a dose de importância
que tem em certas classes o cavalo,
pôs selim e arqueou com elegância,
tentando o mais possível imitá-lo.
Depois, foi para a feira, airoso e lindo,
e, na verdade, os outros animais
saudaram, com respeito, o recém vindo,
atendendo aos bonitos atafais.
-"Vosselência é cavalo, ou coisa assim?"
-perguntaram os brutos ao jumento.
-"Se sou cavalo?! Já se vê que sim"
-o vaidoso orneou, profundo e lento.
Ouvindo em vez de rincho aquele zurro,
os outros conheceram-lhe o disfarce.
...Por mais que tente disfarçar-se um burro,
tarde ou cedo virá a revelar-se.
Acácio de Paiva
que tem em certas classes o cavalo,
pôs selim e arqueou com elegância,
tentando o mais possível imitá-lo.
Depois, foi para a feira, airoso e lindo,
e, na verdade, os outros animais
saudaram, com respeito, o recém vindo,
atendendo aos bonitos atafais.
-"Vosselência é cavalo, ou coisa assim?"
-perguntaram os brutos ao jumento.
-"Se sou cavalo?! Já se vê que sim"
-o vaidoso orneou, profundo e lento.
Ouvindo em vez de rincho aquele zurro,
os outros conheceram-lhe o disfarce.
...Por mais que tente disfarçar-se um burro,
tarde ou cedo virá a revelar-se.
Acácio de Paiva
O criado mentiroso
Certo lavrador tinha, havia pouco tempo, um criado, que viera de muito longe e mentia por gosto.
Iam os dois uma vez a cavalo e disse o criado:
-Lá na minha terra, vi um dia uma raposa ainda maior que a ponte de sete arcos que atravessa o rio.
-Bem andaste falando-me em pontes - disse o amo - pois quero dar-te um aviso. Uma vamos daqui a pouco atravessar, que tem um condão especial.
-E qual é? - perguntou o criado.
-Abre-se pelo meio, quando por ela passa quem nesse dia haja pregado alguma peta.
O criado enfiou, e de ali a bocadinho disse ao amo:
-Tamanha como a ponte não seria a raposa, mas era assim como um boi muito grande.
O amo não lhe respondeu, e o criado que ia cavalgando atrás dele, coçava a orelha, muito atrapalhado.
-E talvez nem chegasse ao tamanho dum boi; como um cavalo é que ela era, ou como um burro.
Já se avistava a ponte. O moço pôs-se a tremer.
Se ela se lhe abrisse debaixo dos pés, a queda ao rio era certamente mortal. Foi então dizendo:
-Era como um burro. era; assim como um burro pequenino, acabado de nascer, pouco maior que um cão.
A ponte era altíssima. O pobre criado, já a voz se lhe sumia de todo, quando acrescentou:
-A verdade, a pura verdade, é que a raposa era como todas as raposas.
Já o amo ia na ponte. Olhou para trás e viu o criado que parara à entrada.
-Então? - perguntou-lhe - O cavalo tem medo?
-Não senhor - respondeu-lhe o moço - sou eu que não me atrevo.
-Então porquê?
-É que eu, patrão, nunca vi raposa nenhuma.
E, persuadido enfim de que já não lhe aconteceria mal, meteu esporas ao cavalo e seguiu o lavrador, que ria às gargalhadas.
Iam os dois uma vez a cavalo e disse o criado:
-Lá na minha terra, vi um dia uma raposa ainda maior que a ponte de sete arcos que atravessa o rio.
-Bem andaste falando-me em pontes - disse o amo - pois quero dar-te um aviso. Uma vamos daqui a pouco atravessar, que tem um condão especial.
-E qual é? - perguntou o criado.
-Abre-se pelo meio, quando por ela passa quem nesse dia haja pregado alguma peta.
O criado enfiou, e de ali a bocadinho disse ao amo:
-Tamanha como a ponte não seria a raposa, mas era assim como um boi muito grande.
O amo não lhe respondeu, e o criado que ia cavalgando atrás dele, coçava a orelha, muito atrapalhado.
-E talvez nem chegasse ao tamanho dum boi; como um cavalo é que ela era, ou como um burro.
Já se avistava a ponte. O moço pôs-se a tremer.
Se ela se lhe abrisse debaixo dos pés, a queda ao rio era certamente mortal. Foi então dizendo:
-Era como um burro. era; assim como um burro pequenino, acabado de nascer, pouco maior que um cão.
A ponte era altíssima. O pobre criado, já a voz se lhe sumia de todo, quando acrescentou:
-A verdade, a pura verdade, é que a raposa era como todas as raposas.
Já o amo ia na ponte. Olhou para trás e viu o criado que parara à entrada.
-Então? - perguntou-lhe - O cavalo tem medo?
-Não senhor - respondeu-lhe o moço - sou eu que não me atrevo.
-Então porquê?
-É que eu, patrão, nunca vi raposa nenhuma.
E, persuadido enfim de que já não lhe aconteceria mal, meteu esporas ao cavalo e seguiu o lavrador, que ria às gargalhadas.
Diálogo
"MÃEZINHA: Se Deus existe
para nossa salvação,
porque há tanta gente triste
e tanto pobre sem pão?"
Ela sorriu docemente,
num vago encanto sereno,
e respondeu, firme e crente,
ao seu filhinho pequeno:
"Deus representa a pureza
da clara sabedoria.
Depois de funda tristeza,
tem mais sabor a alegria!
Deus existe em toda a parte,
porque em toda a parte cabe;
e, porque assim se reparte,
tudo vê e tudo sabe.
Arranca do coração
qualquer semente ruim,
que te leve a dizer não,
quando possas dizer sim.
Guarda Deus dentro de ti,
e nunca mais te apoquentes
com a dúvida que vi
nos teus olhos inocentes.
Pensa apenas, e afinal,
que de Deus tudo provém."
-" Então porque existe o Mal?"
-" Para poder fazer-se o Bem!"
Silva Tavares
Quando ...
Quando as avezinhas, inertes, deixarem de trinar
E as árvores caírem;
Quando o sol se afastar e a terra deixar de iluminar
E as estrelas fugirem;
Quando o mar se enfurecer e a terra galgar
E os diques abrirem;
Quando a chuva caír e o vento rugir
E os prédios ruírem;
Quando o homem, ao acordar do seu torpor,
Se aperceber que destruíu em horas,
Séculos de civilização,
Erguerei aos céus meus olhos dilatados de horror
E murmurarei então ...
"Perdoai-nos Senhor"
Fernando J
E as árvores caírem;
Quando o sol se afastar e a terra deixar de iluminar
E as estrelas fugirem;
Quando o mar se enfurecer e a terra galgar
E os diques abrirem;
Quando a chuva caír e o vento rugir
E os prédios ruírem;
Quando o homem, ao acordar do seu torpor,
Se aperceber que destruíu em horas,
Séculos de civilização,
Erguerei aos céus meus olhos dilatados de horror
E murmurarei então ...
"Perdoai-nos Senhor"
Fernando J
Sonho, realidade ... ou desespero.
O homem é como uma árvore frondosa que, à medida que os anos vão passando, vai suportando as machadadas dos lenhadores que lhe vão aparecendo, sempre com o intuito de se apoderarem da lenha e dos seus frutos mais apetecidos.
À medida que os golpes se vão sucedendo, a árvore vai enfraquecendo, até que, por fim, de tão fraca que está por tanta machadada levada, basta que alguém se encoste a ela, para desabar fragorosamente.
E vai apodrecendo ... apodrecendo.
À medida que os golpes se vão sucedendo, a árvore vai enfraquecendo, até que, por fim, de tão fraca que está por tanta machadada levada, basta que alguém se encoste a ela, para desabar fragorosamente.
E vai apodrecendo ... apodrecendo.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
A GAMELA
Homem mui velho e já tonto
Um filho casado e um neto
Debaixo do mesmo tecto,
Nos diz um conto,
Viviam,
Juntos, porém, não comiam:
O velho, pois que a tijela
Quebrava
E o caldo entornava,
Comia numa gamela
De pau, e fora
Da mesa!
Com aspereza
Era tratado
Pelo filho, e pela nora
Desprezado.
Um dia, ao canto da casa,
Estando o neto entretido
(Era ainda pequenote)
Muito atento a ver se vaza,
Com uma goiva e um serrote,
Um pedaço de madeira,
Interrompido
Pelo pai foi, que indagou
O fim de tal brincadeira.
-"Aqui estou"
Lhe responde o inocente
"A fazer uma gamela,
Qual aquela
Em que come meu avô,
Para meu pai comer nela
Quando for velho e demente."
Acrescenta mais o conto:
Revirou
O coração
Ao pai aquela lição:
Cuidadoso,
E respeitoso,
Desde então,
Tratou
Do velhinho tonto.
Filhos que não respeitais
Vossos pais,
Se algum dia vos couber
Filhos ter,
Como heis-de neles achar
Quem vos saiba respeitar?
Henrique O'Neill
Um filho casado e um neto
Debaixo do mesmo tecto,
Nos diz um conto,
Viviam,
Juntos, porém, não comiam:
O velho, pois que a tijela
Quebrava
E o caldo entornava,
Comia numa gamela
De pau, e fora
Da mesa!
Com aspereza
Era tratado
Pelo filho, e pela nora
Desprezado.
Um dia, ao canto da casa,
Estando o neto entretido
(Era ainda pequenote)
Muito atento a ver se vaza,
Com uma goiva e um serrote,
Um pedaço de madeira,
Interrompido
Pelo pai foi, que indagou
O fim de tal brincadeira.
-"Aqui estou"
Lhe responde o inocente
"A fazer uma gamela,
Qual aquela
Em que come meu avô,
Para meu pai comer nela
Quando for velho e demente."
Acrescenta mais o conto:
Revirou
O coração
Ao pai aquela lição:
Cuidadoso,
E respeitoso,
Desde então,
Tratou
Do velhinho tonto.
Filhos que não respeitais
Vossos pais,
Se algum dia vos couber
Filhos ter,
Como heis-de neles achar
Quem vos saiba respeitar?
Henrique O'Neill
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
O trinco da porta
Na porta do pátio, havia muito que faltava o trinco.
O lavrador, quando entrava ou saía, nunca se esquecia de encostá-la; mas ninguém mais tinha o mesmo cuidado, e por isso a criação andava sempre a fugir para o campo, e as cabras e ovelhas a entrar no pátio e até para dentro de casa, o que, além de arreliar, fazia perder muito tempo.
Mas o lavrador, todas as vezes que a mulher o aconselhava a comprar o trinco, respondia-lhe:
- Ele faz falta, lá isso faz; mas custa oito vinténs, e esse dinheiro também me faz muita falta.
Continuava a porta sem trinco, e eis que uma bela manhã foge o melhor porco do chiqueiro e safa-se por ela direito a um matagal, que havia lá fora, no campo.
Um dos filhos do lavrador ainda o bispou e disse em altos berros:
- Lá vai o porco! Lá vai o porco!
Ouvio-o o pai na cavalariça, onde estava prendendo à manjedoura o cavalo preto, e deixou-o logo para correr atrás do porco.
A mulher fez o mesmo à roupa, que engomava na cozinha, e desatou a correr atrás do marido.
A filha, que ao pé da lareira mexia a sopa, desatou a correr atrás da mãe.
E, atrás de todos, enfiaram também, numa corrida doida, o filho e o criado.
Na azáfama em que este corria, não mediu bem a largura dum valado, escorregou e torceu um pé.
O lavrador, a mulher, o filho e a filha, não tiveram outro remédio senão acudir-lhe; e os dois homens troxeram para casa, de charola, o pobre rapaz, que lamuriava:
- Ai o meu pé! Ai! A minha perna!
Tinha também escalavrado uma canela.
Na cozinha sentiram um cheiro muito forte a roupa queimada. Havia saltado uma brasa do ferro de engomar para a melhor camisa do lavrador.
E a sopa estava perdida, com esturro!
Furioso contra a mulher e a filha, o lavrador correu à cavalariça, lembrando-se do cavalo preto.
Andava solto e, com uma parelha de coices acabava de partir uma perna ao jumento.
Ainda mais: o criado esteve quinze dias estirado na cama, mas ganhando dinheiro ao amo, que teve de fazer-lhe a obrigação mais o filho.
E tudo porque a tempo não se tinham gasto oito vinténs com o trinco da porta!
O lavrador, quando entrava ou saía, nunca se esquecia de encostá-la; mas ninguém mais tinha o mesmo cuidado, e por isso a criação andava sempre a fugir para o campo, e as cabras e ovelhas a entrar no pátio e até para dentro de casa, o que, além de arreliar, fazia perder muito tempo.
Mas o lavrador, todas as vezes que a mulher o aconselhava a comprar o trinco, respondia-lhe:
- Ele faz falta, lá isso faz; mas custa oito vinténs, e esse dinheiro também me faz muita falta.
Continuava a porta sem trinco, e eis que uma bela manhã foge o melhor porco do chiqueiro e safa-se por ela direito a um matagal, que havia lá fora, no campo.
Um dos filhos do lavrador ainda o bispou e disse em altos berros:
- Lá vai o porco! Lá vai o porco!
Ouvio-o o pai na cavalariça, onde estava prendendo à manjedoura o cavalo preto, e deixou-o logo para correr atrás do porco.
A mulher fez o mesmo à roupa, que engomava na cozinha, e desatou a correr atrás do marido.
A filha, que ao pé da lareira mexia a sopa, desatou a correr atrás da mãe.
E, atrás de todos, enfiaram também, numa corrida doida, o filho e o criado.
Na azáfama em que este corria, não mediu bem a largura dum valado, escorregou e torceu um pé.
O lavrador, a mulher, o filho e a filha, não tiveram outro remédio senão acudir-lhe; e os dois homens troxeram para casa, de charola, o pobre rapaz, que lamuriava:
- Ai o meu pé! Ai! A minha perna!
Tinha também escalavrado uma canela.
Na cozinha sentiram um cheiro muito forte a roupa queimada. Havia saltado uma brasa do ferro de engomar para a melhor camisa do lavrador.
E a sopa estava perdida, com esturro!
Furioso contra a mulher e a filha, o lavrador correu à cavalariça, lembrando-se do cavalo preto.
Andava solto e, com uma parelha de coices acabava de partir uma perna ao jumento.
Ainda mais: o criado esteve quinze dias estirado na cama, mas ganhando dinheiro ao amo, que teve de fazer-lhe a obrigação mais o filho.
E tudo porque a tempo não se tinham gasto oito vinténs com o trinco da porta!
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