domingo, 20 de novembro de 2016

A Gamela


Homem mui velho e já tonto,
Um filho casado e um neto
Debaixo do mesmo teto,
Nos diz um conto,
Viviam.
Juntos, porém, não comiam.
O velho, pois que a tigela
Quebrava
E o caldo entornava,
Comia numa gamela
De pau, e fora
Da mesa!
Com aspereza
Era tratado
Pelo filho, e pela nora
Desprezado.
Um dia, ao canto da casa,
Estando o neto entretido
(Era ainda pequenote)
Muito atento a ver se vaza,
Com uma goiva e um serrote,
Um pedaço de madeira,
Interrompido
Pelo pai foi, que indagou
O fim de tal brincadeira
-"Aqui estou"
-Lhe responde o inocente,
A fazer uma gamela,
Qual aquela,
Em que come meu avo,
Para meu pai comer nela
Quando for velhinho e demente"
Acrescenta mais o conto.
Revirou
O coração
Ao pai aquela lição,
Cuidadoso e respeitoso,
Desde então,
Tratou
Do velhinho tonto.
Filhos que não respeitais
Vossos pais,
Se alguma dia vos couber
Filhos ter,
Como heis-de neles achar
Quem vos saiba respeitar.
           Henrique O'Neill

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