domingo, 20 de novembro de 2016

A Gamela


Homem mui velho e já tonto,
Um filho casado e um neto
Debaixo do mesmo teto,
Nos diz um conto,
Viviam.
Juntos, porém, não comiam.
O velho, pois que a tigela
Quebrava
E o caldo entornava,
Comia numa gamela
De pau, e fora
Da mesa!
Com aspereza
Era tratado
Pelo filho, e pela nora
Desprezado.
Um dia, ao canto da casa,
Estando o neto entretido
(Era ainda pequenote)
Muito atento a ver se vaza,
Com uma goiva e um serrote,
Um pedaço de madeira,
Interrompido
Pelo pai foi, que indagou
O fim de tal brincadeira
-"Aqui estou"
-Lhe responde o inocente,
A fazer uma gamela,
Qual aquela,
Em que come meu avo,
Para meu pai comer nela
Quando for velhinho e demente"
Acrescenta mais o conto.
Revirou
O coração
Ao pai aquela lição,
Cuidadoso e respeitoso,
Desde então,
Tratou
Do velhinho tonto.
Filhos que não respeitais
Vossos pais,
Se alguma dia vos couber
Filhos ter,
Como heis-de neles achar
Quem vos saiba respeitar.
           Henrique O'Neill

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Burro ... ou talvez não.


Há muita gente que chama ¨burro¨, com sentido pejorativo, a quem não concorda com as suas ideias julgando que está a insultar, quando, na realidade, está a elogiar.
Porque o burro é um animal inteligente e, quem os utiliza como veículo de transporte ou de carga, sabe perfeitamente o quanto ele é sabido, útil e individualista.
O burro tem a sua personalidade e muito se engana quem o julga passível e de se submeter a ordens que não lhe convenham ou tentem inverter as suas convicções. Ele logo responderá com um bom par de coices, capazes de derrubar o mais ousado.A única coisa que o faz desorientar é o zurro de uma burra! Aí sim; ele vai atrás do som até encontrar a companheira e não quer saber dos inconvenientes que tal atitude possa provocar. Isto não é ser asno! Isto é ser inteligente!

                         Fernando J

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Opiniões polémicas


Tenho verificado que, uma minoria da comunicação social brasileira escrita, se entretém a inventar ‘estórias’ descabidas em relação aos portugueses, tentando denegrir a heroicidade de um povo que deu a conhecer mundos ao mundo e, pelos vistos, se acha inferiorizada, por terem sido os portugueses a fazer tal façanha.
Não sei com que intenções, mas sei que é grave a deformação da história de um povo.
Agora acabo de ler, num livro escolar, portanto destinado à educação dos jovens brasileiros, uma infinidade de fantasias escritas por um jornalista que tem a veleidade de chamar colega a Pero Vaz de Caminha, que como toda a gente sabe, foi escriba, jornalista, escritor, ou como lhe queiram chamar, que deu a notícia do descobrimento ou achamento da Ilha de Vera Cruz.
E a sua sandice vai ao ponto de o chamar mentiroso, cabra sem vergonha e bajulador , baseado em fatos que ele próprio inventou.
Ou não leu, ou interpretou mal a carta que Caminha enviou ao rei, pois ele não fala do Brasil com nenhuma indignidade, antes pelo contrário, até porque o Brasil só começou a ser chamado assim, a partir de 1527.
´E de estranhar que os autores do livro tenham deixado passar tamanha anomalia, chamando-a de ‘Opinião polémica’.
No entanto, essa opinião polémica lá está impressa, talvez no sentido de causar dúvidas.
Num outro livro da História do Brasil, fiquei a saber que foi Cristóvão Colombo  que apelidou de índios os povos do Brasil (?), porque julgou que tinha chegado à India, o que faz pensar que foi ele que descobriu (achou) o Brasil.

A mim pouco me interessa saber quem descobriu ou achou o Brasil. Sou português, estou casado com uma brasileira, o país é maravilhoso, sinto-me bem aqui, mas é sempre bom repor a verdade.

                                                  Fernando J