segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cântico IV

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Cecília Meireles

Mulher ao espelho

Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meireles

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Ferreira Gullar

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A difícil arte de dizer "não" aos filhos

Você costuma dizer "não" aos seus filhos?

Considera fácil negar alguma coisa a essas criaturinhas encantadoras e de rostos angelicais que pedem com tanta doçura?

Uma conhecida educadora do nosso País alerta que não é fácil dizer não aos filhos, principalmente quando temos os recursos para atendê-los.

Afinal, nos perguntamos, o que representa um carrinho a mais, um brinquedo novo se temos dinheiro necessário para comprar o que querem? Por que não satisfaze-los?

Se podemos sair de casa escondidos para evitar que chorem, por que provocar lágrimas?

Se lhe dá tanto prazer comer todos os bombons da caixa, por que faze-lo pensar nos outros?

E, além do mais, é tão fácil e mais agradável sermos "bonzinhos"...

O problema é que ser pai é muito mais que apenas ser "bonzinho" com os filhos. Ser pai é ter uma função e responsabilidade sociais perante os filhos e perante a sociedade em que vivemos.

Portanto, quando decidimos negar um carrinho a um filho, mesmo podendo comprar, ou sofrendo por lhe dizer "não", porque ele já tem outros dez ou vinte, estamos ensinando-o que existe um limite para o ter.

Estamos, indiretamente, valorizando o ser.

Mas quando atendemos a todos os pedidos, estamos dando lições de dominação, colaborando para que a criança aprenda, com nosso próprio exemplo, o que queremos que ela seja na vida: uma pessoa que não aceita limites e que não respeita o outro enquanto indivíduo.

Temos que convir que, para ter tudo na vida, quando adulto, ele fatalmente terá que ser extremamente competitivo e provavelmente com muita "flexibilidade" ética, para não dizer desonesto.

Caso contrário, como conseguir tudo? Como aceitar qualquer derrota, qualquer "não" se nunca lhe fizeram crer que isso é possível e até normal?

Não se defende a idéia de que se crie um ser acomodado sem ambições e derrotista. De forma alguma. É o equilíbrio que precisa existir: o reconhecimento realista de que, na vida às vezes se ganha, e, em outras, se perde.

Para fazer com que um indivíduo seja um lutador, um ganhador, é preciso que desde logo ele aprenda a lutar pelo que deseja sim, mas com suas próprias armas e recursos, e não fazendo-o acreditar que alguém lhe dará tudo, sempre, e de "mão beijada"

Satisfazer as necessidades dos filhos é uma obrigação dos pais, mas é preciso distinguir claramente o que são necessidades do que é apenas consumismo caprichoso.

Estabelecer limites para os filhos, é necessário e saudável.

Nunca se ouviu falar que crianças tenham adoecido porque lhes foi negado um brinquedo novo ou outra coisa qualquer.

Mas já se teve notícias de pequenos delinqüentes que se tornaram agressivos quando ouviram o primeiro não, fora de casa.

Por essa razão, se você ama seu filho, vale a pena pensar na importância de aprender a difícil arte de dizer não.

Vale a pena pensar na importância de educar e preparar os filhos para enfrentar tempos difíceis, mesmo que eles nunca cheguem.

***

O esforço pela educação não pode ser desconsiderado.

Todos temos responsabilidades no contexto da vida, nas realizações humanas, nas atividades sociais, membros que somos da família universal

Livro "Repositório de sabedoria"

domingo, 8 de agosto de 2010

Ensaio sobre a toxicodependência

Muito embora a toxidependência não seja considerada por muitos como uma doença comum, e eu sou um deles, verifica-se que se trata de um vício adquirido que, se não for tratado, degenera numa doença crónica.
Mas há que ter sempre em consideração que é uma doença que tem como origem um vício.
Há quem fale em doença genética e que, portanto o ser humano já nasce predisposto para esse vício.
Se assim é, porque os primeiros sintomas não são perceptíveis na meninice e só se tornam evidentes anos mais tarde, nas mais diversas faixas etárias?
Há quem suspeite que é uma glândula cerebral deformada a causadora dessa deficiência. Não será precisamente o contrário? Não será o vício que altera as funções dessa glândula.?
Se vivemos todos no mesmo mundo, sujeitos às mesmas pressões e dificuldades, porque será que apenas uma minoria se torna mentalmente perturbada?
A resposta é complexa! Porque nós os ditos equilibrados somos fortes e eles, os desiquillibrados, são fracos?
Temos que admitir que não somos fortalezas inexpugnáveis e estes problemas também nos poderão acontecer a nós, a qualquer momento.
Os toxicodependentes são parcial ou totalmente responsáveis pelo caminho que percorrem entre a vida sem drogas e a vida dependente de drogas.
O que leva a esta escolha? Dirão imediatamente que se deve à sociedade da qual fazemos parte, como a desculpa mais evidente e simples.
E … lavamos as mãos, porque isso não nos diz respeito.
Agora, quando acontece a alguém da nossa família, aí sim, o caso muda de figura.
E arranjamos as mais diversas desculpas, como:
- Foram os amigos, porque eu sempre fui um bom pai, ele sempre teve tudo o que pedia , dei-lhe uma boa educação (aqui confundem educação com instrução, que são coisas completamente diferentes) E terão dado?
Nunca dizem que são pais ausentes, que nunca deram atenção aos filhos e que os deixaram à mercê dos perigos, que nunca discutiram com eles os problemas que os afligiam, que não deram atenção às evidentes mudanças de comportamento.
Têm que se convencer que não se trata de um desafio de futebol, no qual, se o nosso clube perde, a culpa é sempre do árbitro!

Tratamento

Ainda segundo os especialistas, há duas maneiras de tratamento da dependência química: a psicoterapia e a farmacoterapia. O modelo psicoterapeutico mais bem fundamentado prevê abstinência da substância, evitação de situações que induzam ao consumo e treinamento para resistir ao uso em circunstâncias que possam ser evitadas. .
O tratamento tende a ser mais eficaz se acompanhado por atendimento familiar. Tem grande importância também, a procura de grupos de auto-ajuda, como Alcoólatras ou Narcóticos Anônimos. A internação é indicada em casos específicos, como risco de suicídio, agressividade e ao uso descontrolado da substância que esteja impedindo a freqüência às consultas.
Um dos fatores mais importantes para o sucesso do tratamento é a motivação, visto que muitos pacientes não se consideram doentes. Dependentes de drogas que não procuram assistência sofrem mais complicações associadas ao uso, como infecções (inclusive Aids, para os adeptos de drogas injetáveis), desemprego e atividades ilegais. A mortalidade também é maior entre esses indivíduos, causada principalmente por overdose, suicídio e homicídio.


Sintomas

• Tolerância: necessidade de aumento da dose para se obter o mesmo efeito;
• Crises de abstinência: ansiedade, irritabilidade, insônia ou tremor quando a dosagem é reduzida ou o consumo é suspenso;
• Ingestão em maiores quantidades ou por maior período do que o desejado pelo indivíduo;
• Desejo persistente ou tentativas fracassadas de diminuir ou controlar o uso da substância;
• Perda de boa parte do tempo com atividades para obtenção e consumo da substância ou recuperação de seus efeitos;
• Negligência com relação a atividades sociais, ocupacionais e recreativas em benefício da droga;
• Persistência na utilização da substância, apesar de problemas físicos e/ou psíquicos.

Fernando J

A problemática aluno vs professor

É quase impossível acreditar que, devido a leis descabidas, mas que não deixam de ser leis (dura lex, sed lex) e, portanto, têm que ser cumpridas, emitidas por pessoas que nunca entraram numa sala de aula, na atualidade, no calvário que, hoje em dia, é ser professor!
Ainda há pouco tempo, o professor era o complemento dos pais na educação das crianças e jovens, aliando a isso a instrução para que estava devidamente habilitado.
E o que vemos hoje?
A sala de aula tornou-se num autêntico pandemónio, no qual o professor não tem qualquer autoridade para impor a ordem, e, se o faz, contraria leis obtusas e enfrenta a possibilidade de ser demitido.
Chega-se ao cúmulo do professor não poder mandar calar um aluno desobediente, e ter que assistir, impávido e sereno, ao desenrolar dos acontecimentos, como espetador impotente e ultrajado!
Há autênticos energúmenos que não querem estudar e utilizam a sala de aula para passear a sua imoralidade, imbecilidade e impunidade, provocando colegas e professores!
E são esses jovens, que fazem alarde da sua ignorância e desrespeito, que nos vão governar amanhã?
São esses jovens, que chegam ao final do curso sem qualquer habilitação, pois os professores são obrigados a passá-los, de ano para ano, para que o ensino entre nas estatísticas como “excelente” e o país 100% alfabetizado?
Habilitados em quê? Na desordem, no banditismo, nos maus costumes?
E o mais degradante, é que são os próprios pais, completamente ausentes e permissivos, que vão discutir com o professor, porque este encostou um dedo no filho e o menino ficou constrangido e tem que ter assistência psicológica!
É trágico, caricato e desumano, que professoras saiam da sala a chorar, considerando-se impotentes para impor ordem a tamanha desordem!
Um professor é aquela pessoa que nos prepara para um futuro digno e não um mero assistente que se posiciona em cima de um estrado, em frente de um quadro, esperando o desenrolar dos acontecimentos que poderão ser graves e, o mais incrível, é que é responsabilizado pelo que possa suceder!
Se não houver ninguém que ponha um freio a isto, vamos caír, inevitavelmente, num precipício

Fernando J

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ser Feliz

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

Fernando Pessoa