
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
O sono do João
Diz àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João acordar...)
Tem só um palmo de altura
E nem meio de largura:
Para o amigo orangotango
O João seria... um morango!
Podia engoli-lo um leão
Quando nasce! As pombas são
Um poucochinho maiores...
Mas os astros são menores!
O João dorme... Que regalo!
Deixá-lo dormir, deixá-lo!
Calai-vos, águas do moinho!
Ó Mar! fala mais baixinho...
E tu, Mãe! e tu, Maria!
Pede àquele cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João acordar...
O João dorme, o Inocente!
Dorme, dorme eternamente,
Teu calmo sono profundo!
Não acordes para o Mundo,
Pode levar-te a maré:
Tu mal sabes o que isto é...
Ó Mãe! canta-lhe a canção,
Os versos do teu Irmão:
"Na vida que a Dor povoa,
Há só uma coisa boa,
Que é dormir, dormir, dormir...
Tudo vai sem se sentir."
Deixa-o dormir, até ser
Um velhinho... até morrer!
E tu vê-lo-ás crescendo
A teu lado (estou-o vendo
João! que rapaz tão lindo!)
Mas sempre sempre dormindo...
Depois, um dia virá
Que (dormindo) passará
do berço, onde agora dorme,
Para outro, grande, enorme:
E as pombas que eram maiores
Que João... ficarão menores!
Mas para isso, ó Maria!
Diz àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João acordar...
E os anos irão passando.
Depois, já velhinho, quando
(Serás velhinha também)
Perder a cor que, hoje, tem,
Perder as cores vermelhas
E for cheinho de engelhas,
Morrerá sem o sentir,
Isto é, deixa de dormir:
Acorda e regressa ao seio
De Deus, que é d'onde ele veio...
Mas para isso, ó Maria!
Pede àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João acordar...
António Nobre
Mudanças climáticas
O que podemos entender por “mudanças climáticas”?
Ao longo de tempos imemoriais, o nosso planeta sofreu diversas mutações provocadas pelas constantes e significativas mudanças ambientais.. Não podemos culpar o homem, porque nessa altura ainda não existia a raça humana.
No entanto, com o desenvolvimento tecnológico atual, o homem, na sua ânsia de se aperfeiçoar, descurou o meio ambiente onde se encontra inserido e optou pelo desenvolvimento desregrado, tendo desrespeitado as mais elementares regras de equilíbrio ambiental, que julgava imutável.
E assim, assistimos, passivamente, à extinção de diversas espécies animais e, num futuro muito próximo, à luta pela nossa própria sobrevivência.
Fazem-se reuniões dos países ditos “ricos”, que esperam sempre que os outros abdiquem da emissão de gases tóxicos para a atmosfera, mas que se recusam fazê-lo porque isso poria em risco o conceito da sua supremacia e riqueza.
Thomas Hobbes, filósofo inglês, disse e, muito bem, que o “homem é o lobo do homem” e isso está a verificar-se constantemente.
A problemática das alterações climáticas faz parte apenas das capas dos jornais, pois ninguém leva muito a sério o que se está a passar!
É o aquecimento global, com o desaparecimento da camada de ozono, que é um escudo que nos protege dos raios ultravioletas emitidos pelo sol.
São as calotes de gelo que se separam dos pólos e fazem a sua aparição em locais que nos surpreendem.
São as cidades que irão desaparecer engolidas pela subida dos oceanos.
É a população das grandes cidades que já respira uma mistura de oxigénio com gás carbónico, devido à emissão desenfreada de gases provenientes dos milhões de automóveis.
O próprio ser humano prefere respirar os gases dos carros que os precedem, nas longas filas que se formam nas cidades, a ter que deixar o carro em casa e utilizar os transportes públicos, o que diminuiria substancialmente essas emissões.
É o tal “status”, a vaidade e o desprezo por aqueles que são obrigados a respirar o que os outros produzem.
Se não nos unirmos, se não fizermos ouvir a nossa voz contra os “donos do mundo”, os nossos filhos e netos irão assistir ao fim de uma civilização arduamente conquistadaFernando J
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Coveiro
Ele fez seus bisnetos acreditarem
Que se poderia viver até 103 anos
Cento e três é pra sempre quando você é
Somente uma criança
Então, Cyrus Jones viveu pra sempre.
Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?
Coveiro
Muriel Stonewall, 1903 a 1954
Perdeu seus dois bebês na Segunda Guerra Mundial
Você nunca deveria ter que assistir
Seus únicos filhos serem baixados à terra
Quero dizer, você nunca deveria ter que enterrar seus próprios bebês.
Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?
Coveiro
Anel em volta da rosa
Bolso repleto de flores
Das cinzas às cinzas
Todos nós caímos
Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?
Coveiro
Pequeno Mikey Carson, 67 a 75
Ele andou na sua Bicicleta como um diabo até o dia em que morreu
Quando crescer ele quer ser Mister Vertigo
No trapézio voador
Oh, 1940 a 1992
Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?
Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?
Coveiro
Coveiro
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Eu sou assim!
É meu direito ser diferente, ser singular, incomum.
Desenvolver os talentos que Deus me deu.
Não desejo ser um cidadão comum e modesto,
dependendo sempre de alguém.
Quero correr risco calculado,
Sonhar e construir, falhar e suceder.
Recuso trocar o incentivo por doação.
Prefiro as intemperanças à vida garantida.
Não troco minha dignidade pela ajuda de outros.
Não me acovardo e nem me curvo ante ameaças.
Mnha herança é ficar erecto, altivo e sem medo;
pensar e agir por conta própria e, aproveitando
os benefícios da minha criatividade
Encarar arrojadamente o mundo e dizer:
ISTO É O QUE EU SOU."
Autor desconhecido
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Saudades
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua magestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!
Nessa horas de silêncio,
De tristeza e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e de dor,
O sino do campanário,
Que fala tão solitário
Com esse som mortuário,
Que nos enche de pavor.
Então - proscrito e sozinho -
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra.
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
- Saudades - dos meus amores,
- Saudades - da minha terra!"
Casimiro de Abreu
Vou-me embora p'ra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
-- Lá sou amigo do rei --
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
domingo, 5 de julho de 2009
A grandeza da vida
Tente, pelo menos.
Triste não é falhar nos objectivos, mas abandonar o barco.
Triste é nem começar a corrida e já fugir da raia.
Mesmo que as lágrimas atrapalhem a visão, que as pessoas digam não,
que o tempo mude e o vento sopre para outra direcção ...
Ainda assim, você pode reescrever sua história. E é desse modo que os
vitoriosos chegam lá: quando vencem a si mesmos. E, para isso, não há segredo.
Aposte na força enorme que há dentro de você, confie em si para ultrapassar
as dificuldades. Basta mergulhar de cabeça em seus propósitos e não se deixar
abater com os problemas.
Você sabe: quem pensa que vida é um mar de rosas, acaba se machucando
com os espinhos. E, ao sangrar, desiste, chora, se lamenta ...
Siga seu caminho certo de que nada é tão ruim. Repare: quando está muito calor,
logo vem a chuva e ameniza a temperatura. Então, tenha coragem e persista.
Não baixe a cabeça diante das dificuldades. É nessa hora que você precisa
manter a cabeça erguida e os olhos bem abertos para ver a grandeza da vida.
Karla Precioso
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Certeza
A certeza de que estamos sempre começando ...
A certeza de que precisamos continuar ...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar ...
Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo ...
Da queda um passo de dança ...
Do medo, uma escada ...
Do sonho, uma ponte ...
Da procura, um encontro ...
Fernando Pessoa
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Quando eu morrer
Quando eu morrer,
Soltem gargalhadas
E batam palmas sem parar.
Que se façam os sinos tocar
Mas em desconexas badaladas.
Que se contem anedotas apimentadas
E se faça chacota do meu ar.
Sobre o caixão ponham licor para eu tomar
E algumas mortalhas para serem fumadas.
Quando eu morrer,
Digam nomes ordinários
E façam os outros de otários
Rebolando no chão sempre a rir.
Quando eu morrer,
Rebentem balões,
Dêem pinotes e trambolhões
E fiquem com nódoas negras de tanto cair.
Lígia Laginha
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Cantiga da Ribeirinha
No mundo nom me sai parelha,
mentre me for'como me vai,
cá ja moiro por vos - e ai
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di'ai!
me foi a mi muin mal,
e vos, filha de dom Paai
Moniz, e bem vus semelha
d'aver eu por vos guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vos ouve nem ei
valia d'ua correa ...
Paio Soares de Taveirós
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Canção do Exílio
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorgeiam,
Não gorgeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida tem mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá,
Em cismar sozinho à noite,
Mais prazer encontro eu lá.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá,
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá,
Sem qu'inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.
Gonçalves Dias-Coimbra, Julho de 1843
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
FERNANDO
Lembro-me, há bastante tempo, de uma noite estrelada como esta
À luz da lua, Fernando.
Tu eras rude para ti e suave dedilhando a tua guitarra!
Eu podia ouvir os tambores distantes
E os sons das cordas vindos da distancia.
Eles estavam mais perto agora, Fernando.
Cada hora, cada minuto, parecia uma eternidade.
Eu estava com tanto medo, Fernando.
Nós éramos novos e cheios de vida e nenhum e nós preparado para morrer.
E não tenho vergonha de dizer,
Os rugidos das armas e dos canhões quase me faziam chorar.
Havia alguma coisa no ar naquela noite.
As estrelas estavam brilhando, Fernando.
Estavam ali brilhando para ti e para mim.
Pela liberdade, Fernando!
Embora eu nunca pensasse que poderíamos perder,
Não tenho tristeza.
Se eu tivesse que fazer o mesmo outra vez,
Eu faria, meu amigo, Fernando
Agora estamos velhos e grisalhos, Fernando.
E, desde há muitos anos, eu não vejo uma espingarda nas tuas mãos!
Podes ouvir os tambores, Fernando?
Tu ainda voltarias à horrível noite em que cruzámos o Rio Grande?
Eu posso ver isso nos teus olhos.
Como estavas orgulhoso combatendo pela liberdade desta terra!
Havia alguma coisa no ar naquela noite.
As estrelas estavam brilhando, Fernando.
Estavam ali brilhando para ti e para mim.
Pela liberdade Fernando!
Embora eu nunca pensasse que poderíamos perder,
Não tenho tristeza.
Se eu tivesse que fazer o mesmo outra vez,
Eu faria, meu amigo, Fernando.
Havia alguma coisa no ar naquela noite.
As estrelas estavam brilhando, Fernando.
Estavam ali brilhando para ti e para mim.
Pela liberdade, Fernando!
Embora eu nunca pensasse que poderíamos perder,
Não tenho tristeza.
Se eu tivesse que fazer o mesmo outra vez,
Eu faria, meu amigo, Fernando.
Se eu tivesse que fazer o mesmo outra vez,
Eu faria, meu amigo, Fernando ...
Tradução livre da canção "Fernando" dos Abba.